Aliados do governo tentam contornar o mal-estar gerado com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), após ele ter sido preterido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva na formação do Ministério e, para isso, têm acenado com a oferta de cargos no segundo escalão. As negociações envolvem manter — ou até mesmo aumentar — o controle de caciques do Centrão sobre a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), estatal cobiçada pela sua capacidade de execução de obras e serviços em redutos eleitorais de políticos.
Ao formar seu time de ministros, Lula aplicou um duplo revés em Lira, favoritíssimo para permanecer na presidência da Câmara pelos próximos dois anos. Em cima da hora, o petista decidiu não nomear nenhum nome ligado ao parlamentar. Elmar Nascimento (União-BA), aliado de Lira, chegou na última semana da transição como favorito para o Ministério da Integração Nacional, mas acabou rifado, e a pasta foi entregue ao ex-governador do Amapá Waldez Góes (PDT-AP), indicado ao posto pelo senador Davi Alcolumbre (União-AP).
De quebra, Lira ainda viu um dos seus principais adversários políticos em Alagoas, o ex-governador Renan Filho (MDB-AL), assumir os Transportes, pasta com capilaridade e poder de realização.
Antes disso, o deputado alagoano já havia deixado clara a irritação com o empenho de Lula em articular pelo fim do orçamento secreto junto a ministros do Supremo Tribunal Federal, semanas antes de a Corte pôr fim ao instrumento. Responsável pela pauta e pelas conduções do trabalho na Câmara, Lira já relatou a aliados o incômodo com o desprestígio.
Diante desse cenário, articuladores políticos do novo governo entendem ser preciso oferecer algum tipo de compensação a Lira, num gesto de pacificação. Petistas reconhecem, contudo, que oferecer a Codevasf pode não ser suficiente para conter eventuais retaliações futuras do Centrão em votações no Congresso, uma vez que a companhia já é um feudo do grupo desde o governo de Jair Bolsonaro, quando passou a ser comandada por um apadrinhado de Elmar, o engenheiro Marcelo Andrade Moreira Pinto. Lira, por sua vez, tem um primo à frente da superintendência da estatal em Alagoas, o ex-deputado estadual João José Pereira Filho, conhecido como Joãozinho Pereira.