Planos do governo para reformar a segurança pública encontram obstáculos devido ao corporativismo policial e a resistências estaduais
Em 2003, Luiz Eduardo Soares, ao assumir a Secretaria Nacional de Segurança Pública, vislumbrou um “pacto pela paz”, planejando criar o Sistema Único de Segurança Pública (SUSP). Na época, Soares buscava desenvolver um sistema integrado de dados criminais, que forneceria informações confiáveis para avaliar a eficiência das polícias. Contudo, sua tentativa de promover mudanças foi obstruída pelo corporativismo policial e pela chamada “bancada da bala”, que priorizava demandas salariais e privilégios.
Hoje, duas décadas depois, o presidente Lula ressurge com uma proposta similar para unificar a segurança pública no Brasil. Na reunião com governadores e o ministro da Justiça, a expectativa era avançar em uma estrutura moderna, com policiais mais bem preparados e integrados ao combate ao crime organizado, que tem se fortalecido enquanto as forças policiais permanecem com uma organização ultrapassada.
A resistência persiste, com governadores e deputados estaduais argumentando que a iniciativa do Planalto interfere nas atribuições estaduais. Muitos preferem manter o atual modelo de segurança, que ainda carece de um ciclo completo de atuação das polícias e onde questões estruturais, como a falta de um juiz de instrução, são ignoradas. A falta de coordenação entre as forças policiais ainda reforça a visão tradicional de policiamento “punitivo” e distante das reais necessidades de patrulhamento.
A tentativa de Lula pode enfrentar o mesmo destino do plano de Soares caso não consiga superar o entrave do corporativismo e promover uma reforma profunda e colaborativa com os estados. A ausência de consenso entre as autoridades e o receio de alterar o status quo indicam os desafios de um sistema que busca modernização, mas esbarra em antigas barreiras políticas e estruturais.